Sinopse da terceira aula (segundo semestre de 2006) do Núcleo de Estudos de Transporte e Mobilidade da Faculdade de Administração Pública - Universidade São Marcos - Campus Paulínia - SP.
Por Jean Tosetto
O investimento em tecnologia é fundamental para o desenvolvimento econômico e social. Esta premissa, obviamente, se aplica ao setor de transportes e mobilidade urbana. O desafio das novas gerações tem sido conciliar a diminuição de custos com a redução do consumo de energia e da emissão de poluentes. Some-se a isso a diminuição dos níveis de ruídos e teremos como resultado o respeito ao meio ambiente.
As estações de metrô e trem, assim como suas composições, estão passando por melhorias na qualidade dos serviços prestados, com a utilização cada vez mais intensa de materiais leves e não inflamáveis, sistemas de condicionamento de ar para geração de conforto climático e otimização dos padrões de comunicação para agilizar os deslocamentos intermodais (de metrô para ônibus, por exemplo).
No que tange à questão de controle de tráfego, a cidade de São Paulo é referência nacional por dois motivos. O primeiro é que seu metrô, desde que foi implantado em 1974 nunca registrou um acidente por colisão de suas composições – quando isso ocorre em qualquer lugar do mundo logo vira notícia, como ocorreu recentemente na Alemanha, durante um teste de implantação de linha.
Já a Companhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo – CET/SP conta com cinco sistemas de Controle de Tráfego em Área – CTA, para monitorar o trânsito na cidade. Cada CTA é dotado de um controlador que detecta o fluxo de veículos, utilizando um sistema de transmissão de dados para abastecer o computador central, que processa as informações e recalcula em tempo real os tempos semafóricos, que são enviados de volta ao controlador, que se vale de laços detectores para aferição do fluxo.
Em termos de projetos, os centros urbanos estão seguindo uma tendência de sistemas de transporte intermediários e modulados, com menor capacidade de transporte de passageiros, porém com maior agilidade e integração aos espaços físicos da cidade. Dentre as denominações que se aplicam as estes conceitos podemos citar os “metrôs leves” que podem ser instalados em linhas suspensas, e o VLT (veículo leve de transporte) que pode operar inclusive sobre pneus.
No entanto, quando se fala em projeto na área de transporte, é imprescindível levarmos em conta o conceito da gestão ambiental. Desde a década de 1980 tais projetos – potencialmente geradores de impacto ambiental – devem ter licenciamento ambiental, de acordo com uma Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente – Conama, de 1986. O empreendimento em voga necessita de três licenças: a prévia, que verifica sua viabilidade ambiental; a de instalação, que autoriza a execução de acordo com planos e programas ambientais; e a de operação, que deverá ser renovada em períodos de seis a dez anos, embora todas as licenças possuam prazo de validade.
O licenciamento ambiental só ocorre após a apresentação do Estudo de Impacto Ambiental – EIA, que em síntese trata-se de um diagnóstico que analisa os aspectos físicos, bióticos e antrópicos de acordo com a inserção do empreendimento. Os impactos são classificados quanto à sua temporalidade, intensidade e abrangência. De acordo com eles se elaboram planos e programas para minimizar os efeitos negativos e ampliar os efeitos positivos.
Veja também:
A Coca-Cola e os arquitetos
Inclusão via desenho universal
Materiais reciclados na construção civil
Ainda no campo da gestão ambiental, cabe salientar aplicação da certificação internacional das empresas através de programas de qualidade, dos quais os mais conhecidos são as séries ISO 14000 e SA 8000. Para receber tais certificações as empresas necessitam passar por uma reengenharia interna baseada no treinamento dos recursos humanos, com o objetivo de potencializar o controle racional da produção, com o uso correto dos recursos naturais e a destinação planejada dos resíduos.
Em caráter nacional temos o Projeto Economizar, que une os Ministérios de Minas e Energia e dos Transportes, a Petrobrás, a Confederação Nacional do Transporte – CNT e organizações filiadas, articulando, portanto, esforços do poder público e privado com o objetivo de aumentar em 25% a eficiência energética no uso de derivados de petróleo e gás natural. O projeto atua nas empresas transportadoras em quatro frentes: recebimento e armazenagem do óleo diesel, manutenção dos veículos, treinamento dos motoristas e metodologia de gestão do uso dos combustíveis.
Minimizar a dependência do petróleo como matriz energética para os transportes é uma preocupação mundial diante da escalada dos custos de produção e comercialização cada barril produzido. No Japão, o governo pretende investir 86 milhões de dólares ao ano para instalar cem postos de abastecimento e fazer rodar 40 mil veículos movidos à E3, que é a gasolina com adição de 3% de bioetanol produzido a partir de resíduos de madeira.
Mas a alternativa mais difundida para reduzir a dependência do petróleo tem sido o biodiesel, que é um combustível biodegradável produzido com óleos vegetais de fontes renováveis, como a mamona e o dendê brasileiros. Quando se mistura 2% de biodiesel ao diesel comum de petróleo temos o B2. Na Alemanha, já existem centenas postos de combustíveis que fornecem o B100, que é o biodiesel puro. Tais composições reduzem a emissão de gás carbônico e enxofre na atmosfera, gerando benefícios ambientais.
Na verdade, o conceito do biodiesel é tão antigo quanto o diesel fabricado a partir do petróleo, que durante décadas foi mundialmente difundido devido ao seu relativo baixo custo de produção. Somente com as crises cíclicas a partir da década de 1970 é que os países passam a investir nessa tecnologia. O Brasil tem um potencial inegável para desenvolver a produção de biodiesel e isto pode ser entendido como um fator de inclusão social, pois a produção de óleo de mamona e dendê pode ser feita com o uso da agricultura familiar, segurando um contingente populacional considerável no campo, evitando parte do êxodo rural.
Ainda mais eficiente do ponto de vista ambiental, é a adoção de tecnologia híbrida, baseada em motores elétricos movidos à hidrogênio, emitindo água ao invés de poluição. A difusão de tal procedimento depende da melhoria da segurança e conseqüente confiabilidade de armazenamento do hidrogênio. O mesmo vale para o uso de gás natural, embora neste caso a solução de tal questão é mais simples.
Melhor do que utilizar combustíveis menos poluentes, é combater o uso intenso do veículo particular. A França instituiu, em 1998, a Jornada Internacional “Na Cidade, sem meu Carro”, adotada pela União Européia em 2000 e difundida para vários países do mundo. Nesse dia - 22 de setembro - que é também o dia mundial do pedestre, as autoridades recomendam que se deixe o automóvel em casa e se use o transporte coletivo ou mesmo a bicicleta.
Esta data é conhecida também como o Dia Mundial sem Carro. Na ocasião, são desenvolvidas atividades culturais sobre o transporte e o trânsito, caminhadas e passeios ciclísticos, com aferição dos níveis de poluição e da velocidade do transporte coletivo, divulgando-se os resultados. A cidade de São Paulo aderiu recentemente a essa iniciativa, mas os resultados estão, por enquanto, abaixo do esperado, com pouca redução da extensão dos congestionamentos e dos níveis de poluição, embora as autoridades municipais dêem o exemplo se deixando fotografar usando o transporte coletivo.
A seguir: Paz e educação no trânsito
Anterior: Financiamento para o transporte público
Nenhum comentário:
Postar um comentário