Os primeiros seres humanos, que vagavam pelo norte da África, tinham grande dificuldade com as relações de grandeza. Eles sabiam contar até três. Depois disso, tudo era simplesmente demais. Um, dois, três, muitos, muitos, muitos...
50 mil anos se passaram e nós aprendemos a contar até o infinito. A mídia volta e meia já cita a casa dos trilhões de dólares quando trata das dívidas das grandes potências. Mas isto não significa que temos a noção real do que isto representa. Ganhar o primeiro milhão pode ser um prazer relativamente fácil de descrever, e que provavelmente é muito superior à satisfação fleumática em atingir cinco milhões.
Para alguém que tem um patrimônio na casa dos cem milhões de reais, qual será a diferença de amanhecer com dois milhões a mais ou a menos? É uma quantia que certamente é inesgotável para uma pessoa com os padrões normais de consumo.
Dizem que quantidade não é qualidade. Mas até uma qualidade pode ser anulada pela quantidade. Escrever um artigo irretocável é excelente, escrever dois é um ótimo indício. Porém, leitores param de elogiar um escritor que faz do hábito de escrever bem uma rotina diária, por isso muitos escritores se recusam a manterem blogs, no máximo eles aceitam escrever colunas quinzenais. O mesmo ocorre no esporte: campeões e bicampeões são tão lembrados quanto aqueles que estabeleceram uma supremacia em sua modalidade.
Um sujeito que rouba um pacote de bolachas na mercearia, por necessidade, poderá sentir remorso e se arrepender, mas aquele que faz disso um hábito, deixa de carregar o sentimento de culpa, até mesmo se estiver à frente de orçamentos públicos. Ficamos perplexos quando ocorre uma tragédia, mas quando há sucessões delas no noticiário, então passamos a nos interessar pelo casamento do século.
Lugares como Dubai e China nadam e se afogam em dinheiro. Mas isso não compra raízes culturais e tão pouco características autênticas. Os chineses podem reproduzir cidades mediterrâneas inteiras da Espanha, mas não conseguirão provocar no turista a epifania de acompanhar um por do sol daquela longitude. Não existe ar condicionado em Dubai que dê conta de substituir o vento gelado que infla os pulmões de quem sai para caminhar, de noite, para comprar um pedaço de pão numa delicatessen romana.
Não é por superlativos que compreendemos o mundo. Ainda contamos até três para muitas coisas. Homens e mulheres que se entregam a vários relacionamentos ao longo de uma vida, geralmente tem dificuldade de eleger uma única pessoa que tenha realmente marcado suas memórias, ao passo que aqueles que conseguem viver um longo relacionamento são capazes de mencionar um ou dois romances anteriores, que renderiam boas lembranças.
O universo é composto de bilhões de galáxias. No entanto, só há um planeta conhecido com vida inteligente. São milhões de estrelas no firmamento, mas só uma é capaz de metabolizar a fotossíntese no reino vegetal, do qual os animais são dependentes. Para cada fecundação, incontáveis espermatozóides ficaram no caminho.
Por isso, sempre que a Páscoa chegar, não tente compreendê-la pelos milhões de ovos de chocolate. Nestes milhões realmente não há significado algum. Mas lembre-se de um Moisés que conduziu seu povo, antes escravizado, à Terra Prometida. E lembre-se de um Jesus Cristo que sacrificou seu corpo por amor à Humanidade. Para aqueles que acreditam, milhões serão salvos por intermédio de apenas um.
Para todos, um grande abraço e uma Feliz Páscoa!
Jean Tosetto - Arquiteto
50 mil anos se passaram e nós aprendemos a contar até o infinito. A mídia volta e meia já cita a casa dos trilhões de dólares quando trata das dívidas das grandes potências. Mas isto não significa que temos a noção real do que isto representa. Ganhar o primeiro milhão pode ser um prazer relativamente fácil de descrever, e que provavelmente é muito superior à satisfação fleumática em atingir cinco milhões.
Para alguém que tem um patrimônio na casa dos cem milhões de reais, qual será a diferença de amanhecer com dois milhões a mais ou a menos? É uma quantia que certamente é inesgotável para uma pessoa com os padrões normais de consumo.
Dizem que quantidade não é qualidade. Mas até uma qualidade pode ser anulada pela quantidade. Escrever um artigo irretocável é excelente, escrever dois é um ótimo indício. Porém, leitores param de elogiar um escritor que faz do hábito de escrever bem uma rotina diária, por isso muitos escritores se recusam a manterem blogs, no máximo eles aceitam escrever colunas quinzenais. O mesmo ocorre no esporte: campeões e bicampeões são tão lembrados quanto aqueles que estabeleceram uma supremacia em sua modalidade.
Um sujeito que rouba um pacote de bolachas na mercearia, por necessidade, poderá sentir remorso e se arrepender, mas aquele que faz disso um hábito, deixa de carregar o sentimento de culpa, até mesmo se estiver à frente de orçamentos públicos. Ficamos perplexos quando ocorre uma tragédia, mas quando há sucessões delas no noticiário, então passamos a nos interessar pelo casamento do século.
Lugares como Dubai e China nadam e se afogam em dinheiro. Mas isso não compra raízes culturais e tão pouco características autênticas. Os chineses podem reproduzir cidades mediterrâneas inteiras da Espanha, mas não conseguirão provocar no turista a epifania de acompanhar um por do sol daquela longitude. Não existe ar condicionado em Dubai que dê conta de substituir o vento gelado que infla os pulmões de quem sai para caminhar, de noite, para comprar um pedaço de pão numa delicatessen romana.
Não é por superlativos que compreendemos o mundo. Ainda contamos até três para muitas coisas. Homens e mulheres que se entregam a vários relacionamentos ao longo de uma vida, geralmente tem dificuldade de eleger uma única pessoa que tenha realmente marcado suas memórias, ao passo que aqueles que conseguem viver um longo relacionamento são capazes de mencionar um ou dois romances anteriores, que renderiam boas lembranças.
O universo é composto de bilhões de galáxias. No entanto, só há um planeta conhecido com vida inteligente. São milhões de estrelas no firmamento, mas só uma é capaz de metabolizar a fotossíntese no reino vegetal, do qual os animais são dependentes. Para cada fecundação, incontáveis espermatozóides ficaram no caminho.
Por isso, sempre que a Páscoa chegar, não tente compreendê-la pelos milhões de ovos de chocolate. Nestes milhões realmente não há significado algum. Mas lembre-se de um Moisés que conduziu seu povo, antes escravizado, à Terra Prometida. E lembre-se de um Jesus Cristo que sacrificou seu corpo por amor à Humanidade. Para aqueles que acreditam, milhões serão salvos por intermédio de apenas um.
Para todos, um grande abraço e uma Feliz Páscoa!
Jean Tosetto - Arquiteto
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