A última semana de dezembro de 2011 chegou, bem como um merecido período de descanso. Enquanto estávamos distante do escritório e da Internet, recebemos um pedido de aconselhamento da parte da Diná, cujo sobrenome será preservado:
"Oi Jean, gostei muito do seu site, me inspirou bastante. Sou estudante de Arquitetura, moro em Santa Maria, Distrito Federal.
Moro sozinha com um irmão deficiente mental, nossos pais são falecidos. Mesmo com muitas limitações, resolvi tentar mudar de vida através do estudo e do trabalho. Sou bolsista integral e tenho passado umas dificuldades para me manter no curso. Por problemas pessoais tive que me afastar duas vezes e agora pretendo voltar.
Vi que alguns colegas meus já estão comercializando projetos/plantas, e já estão ganhando dinheiro com isso. Não sei o quanto eles cobram pela planta, nem como é feita essa cobrança, se é por m², enfim... Escrevo para pedir sua opinião. Gostaria de saber se há um meio e qual seria o melhor meio de ganhar dinheiro com esta profissão antes de estar formada, e como se dá esse processo?
Estou passando muitas dificuldades financeiras, e ainda não encontrei alguém para conversar abertamente sobre isso. Se você puder me dar um conselho, que me ajude a me manter no meu curso, eu seria muito grata. Obrigada pela sua atenção, parabéns pelo seu trabalho inspirador.
Aguardo sua resposta ansiosa, um abraço."
Nossa resposta ocorreu na primeira semana de janeiro de 2012, assim que retornamos à atividade:
É muito bom saber que nosso trabalho seja inspirador para os mais jovens, especialmente para os estudantes de Arquitetura. Brasília há mais de meio século é uma referência mundial em arquitetura e urbanismo do período modernista do pós-guerra, mas ficamos a lamentar que as cidades satélites do Distrito Federal não tenham seguido o mesmo padrão de planejamento, e que não tenham recebido a devida atenção das autoridades governamentais ainda na fase embrionária de suas origens.
Se por um lado tais localidades não possuem a qualidade de vida que se espera de uma cidade contemporânea, por outro fica o desafio para uma nova geração de profissionais, ao pensar em novas soluções para questões antigas, de modo que você está no caminho certo ao cursar uma faculdade nesta área. A demanda por profissionais capacitados para pensar em projetos condizentes com o nosso tempo está crescendo a cada ano, e as pessoas mais preparadas terão uma carreira em ascensão pela frente.
Por mais dificuldades financeiras que você tenha no momento, é fundamental que haja foco nos estudos, pois as melhores oportunidades para se colocar no mercado de trabalho aparecem justamente para os alunos que se destacam dentro da sala de aula, já que eles costumam ser recomendados pelos próprios professores, sempre que uma vaga aparece. Muitos mestres possuem um pé na universidade e outro no mercado, e são justamente eles que costumam ser consultados pelos empregadores. Portanto, além de levar a sério seus estudos, cultive um bom relacionamento com seus professores – sem que isso signifique mera bajulação.
Arquitetos e urbanistas em geral são prestadores de serviço, e não apenas “comerciantes de plantas”. Tenha em mente que prestar um serviço é diferente de vender um produto, então fuja dessa história de tabelar seu trabalho por metro quadrado. Você quer fazer o que todo mundo faz ou quer ir além? Um projeto completo vai muito além de uma planta baixa de arquitetura. É preciso detalhar a estrutura, as instalações hidráulicas e elétricas, cuidar da aprovação na prefeitura, além de um série de outros serviços que podem ou não ser agregados, como elaborar planilhas para financiamento bancário, cronogramas para execução de obra, paisagismo e decoração de interiores. Tudo isso influencia no preço e não há um modo simples de arbitrar um valor. Um caminho é pensar no montante da obra e extrair uma porcentagem. Mas isto é algo que você deve encontrar a partir de sua experiência.
Ao pé da letra, na condição de estudante de arquitetura, você só pode desenvolver projetos se houver a supervisão de um profissional registrado no Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil - que a partir de janeiro de 2012 atende pela denominação CAU/BR. Este profissional se responsabilizará pelo trabalho, ou caso contrário você estará praticando o exercício ilegal da profissão – o que é um assunto muito sério, que também vale para os seus colegas. Portanto, não divulgue seus serviços sem antes contar com a chancela de um profissional diplomado e habilitado. O ideal é que ele lhe ofereça ao menos um estágio.
Dificuldades todos nós enfrentamos na vida, em maior ou menor grau. O importante é saber se colocar diante delas, para enfrentá-las ou ao menos conviver com elas. Sua atitude perante os demais é muito importante, independentemente do ramo de trabalho que vá escolher. Antes de despertar a dó ou a piedade nas pessoas, mostre que você é alguém que pode ajudar, que pode fazer algo positivo e ser útil de alguma forma. Pode ser que nenhum retorno aconteça a curto prazo, mas lá frente os resultados vão aparecer, com certeza.
Estude bastante, se empenhe nos primeiros projetos. Faça isso por você e por seu irmão. Quem sabe um dia você esteja na inauguração de uma obra que tenha projetado e se lembre de seus pais. Eles estarão orgulhosos de você, onde eles estiverem.
Leiam como a Diná recebeu nosso retorno:
"Olá caro Jean, fiquei feliz com as palavras que me escreveu, e agradeço pelo carinho de sua atenção. Reafirmo que seu trabalho me inspira, e com certeza levarei em conta cada uma de suas palavras.
Muitas felicidades neste novo ano, pra você e sua família. Mais uma vez muito obrigada, um grande abraço."
Publicamos esta correspondência como um incentivo adicional para a Diná, e eventualmente para outras pessoas que estejam em situação semelhante. Não somos donos da verdade, mas não nos recusaremos em emitir nossas opiniões, sempre que considerarmos as questões pertinentes.
Com apreço,
Jean Tosetto - Arquiteto
Biblioteca básica do jovem arquiteto
Arquitetura vale a pena?
Aço & construção racional
Projetar é preciso...
"Oi Jean, gostei muito do seu site, me inspirou bastante. Sou estudante de Arquitetura, moro em Santa Maria, Distrito Federal.
Moro sozinha com um irmão deficiente mental, nossos pais são falecidos. Mesmo com muitas limitações, resolvi tentar mudar de vida através do estudo e do trabalho. Sou bolsista integral e tenho passado umas dificuldades para me manter no curso. Por problemas pessoais tive que me afastar duas vezes e agora pretendo voltar.
Vi que alguns colegas meus já estão comercializando projetos/plantas, e já estão ganhando dinheiro com isso. Não sei o quanto eles cobram pela planta, nem como é feita essa cobrança, se é por m², enfim... Escrevo para pedir sua opinião. Gostaria de saber se há um meio e qual seria o melhor meio de ganhar dinheiro com esta profissão antes de estar formada, e como se dá esse processo?
Estou passando muitas dificuldades financeiras, e ainda não encontrei alguém para conversar abertamente sobre isso. Se você puder me dar um conselho, que me ajude a me manter no meu curso, eu seria muito grata. Obrigada pela sua atenção, parabéns pelo seu trabalho inspirador.
Aguardo sua resposta ansiosa, um abraço."
Nossa resposta ocorreu na primeira semana de janeiro de 2012, assim que retornamos à atividade:
É muito bom saber que nosso trabalho seja inspirador para os mais jovens, especialmente para os estudantes de Arquitetura. Brasília há mais de meio século é uma referência mundial em arquitetura e urbanismo do período modernista do pós-guerra, mas ficamos a lamentar que as cidades satélites do Distrito Federal não tenham seguido o mesmo padrão de planejamento, e que não tenham recebido a devida atenção das autoridades governamentais ainda na fase embrionária de suas origens.
Se por um lado tais localidades não possuem a qualidade de vida que se espera de uma cidade contemporânea, por outro fica o desafio para uma nova geração de profissionais, ao pensar em novas soluções para questões antigas, de modo que você está no caminho certo ao cursar uma faculdade nesta área. A demanda por profissionais capacitados para pensar em projetos condizentes com o nosso tempo está crescendo a cada ano, e as pessoas mais preparadas terão uma carreira em ascensão pela frente.
Por mais dificuldades financeiras que você tenha no momento, é fundamental que haja foco nos estudos, pois as melhores oportunidades para se colocar no mercado de trabalho aparecem justamente para os alunos que se destacam dentro da sala de aula, já que eles costumam ser recomendados pelos próprios professores, sempre que uma vaga aparece. Muitos mestres possuem um pé na universidade e outro no mercado, e são justamente eles que costumam ser consultados pelos empregadores. Portanto, além de levar a sério seus estudos, cultive um bom relacionamento com seus professores – sem que isso signifique mera bajulação.
Ler e estudar: verbos que os melhores arquitetos devem conjugar ao longo da carreira, mesmo depois de formados. |
Arquitetos e urbanistas em geral são prestadores de serviço, e não apenas “comerciantes de plantas”. Tenha em mente que prestar um serviço é diferente de vender um produto, então fuja dessa história de tabelar seu trabalho por metro quadrado. Você quer fazer o que todo mundo faz ou quer ir além? Um projeto completo vai muito além de uma planta baixa de arquitetura. É preciso detalhar a estrutura, as instalações hidráulicas e elétricas, cuidar da aprovação na prefeitura, além de um série de outros serviços que podem ou não ser agregados, como elaborar planilhas para financiamento bancário, cronogramas para execução de obra, paisagismo e decoração de interiores. Tudo isso influencia no preço e não há um modo simples de arbitrar um valor. Um caminho é pensar no montante da obra e extrair uma porcentagem. Mas isto é algo que você deve encontrar a partir de sua experiência.
Ao pé da letra, na condição de estudante de arquitetura, você só pode desenvolver projetos se houver a supervisão de um profissional registrado no Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil - que a partir de janeiro de 2012 atende pela denominação CAU/BR. Este profissional se responsabilizará pelo trabalho, ou caso contrário você estará praticando o exercício ilegal da profissão – o que é um assunto muito sério, que também vale para os seus colegas. Portanto, não divulgue seus serviços sem antes contar com a chancela de um profissional diplomado e habilitado. O ideal é que ele lhe ofereça ao menos um estágio.
Dificuldades todos nós enfrentamos na vida, em maior ou menor grau. O importante é saber se colocar diante delas, para enfrentá-las ou ao menos conviver com elas. Sua atitude perante os demais é muito importante, independentemente do ramo de trabalho que vá escolher. Antes de despertar a dó ou a piedade nas pessoas, mostre que você é alguém que pode ajudar, que pode fazer algo positivo e ser útil de alguma forma. Pode ser que nenhum retorno aconteça a curto prazo, mas lá frente os resultados vão aparecer, com certeza.
Estude bastante, se empenhe nos primeiros projetos. Faça isso por você e por seu irmão. Quem sabe um dia você esteja na inauguração de uma obra que tenha projetado e se lembre de seus pais. Eles estarão orgulhosos de você, onde eles estiverem.
Leiam como a Diná recebeu nosso retorno:
"Olá caro Jean, fiquei feliz com as palavras que me escreveu, e agradeço pelo carinho de sua atenção. Reafirmo que seu trabalho me inspira, e com certeza levarei em conta cada uma de suas palavras.
Muitas felicidades neste novo ano, pra você e sua família. Mais uma vez muito obrigada, um grande abraço."
Publicamos esta correspondência como um incentivo adicional para a Diná, e eventualmente para outras pessoas que estejam em situação semelhante. Não somos donos da verdade, mas não nos recusaremos em emitir nossas opiniões, sempre que considerarmos as questões pertinentes.
Com apreço,
Jean Tosetto - Arquiteto
Veja também:
Biblioteca básica do jovem arquiteto
Arquitetura vale a pena?
Aço & construção racional
Projetar é preciso...
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