A Avenida Paulista pelas lentes do fotógrafo Horacio Zabala. |
O exercício da política e da democracia é mais profícuo quando cidades e cidadãos são multifacetados.
Por Jean Tosetto *
A Avenida Paulista é emblemática em vários sentidos. Se compararmos a cidade de São Paulo ao telhado de uma casa, veremos que esta via é justamente a cumeeira, ou seja, de um lado dela a água da chuva escorre para o Rio Tietê e para o interior do país. De outro lado as águas pluviais desaguam no Rio Pinheiros e posteriormente no mar. Então podemos concluir que a Avenida Paulista é, literalmente, um divisor de águas.
Mas o conceito de divisão para por aí, uma vez que o coração financeiro de São Paulo é servido de largas calçadas, várias faixas de rolamento para carros e ônibus, além de estações de metro. Neste corredor apinhado de edificações de vários estilos ocorrem diversos tipos de aglomerações populares, desde viradas de ano, viradas culturais, passeatas de minorias sexuais, comemorações de títulos de futebol por parte de torcidas antagônicas. Na Avenida Paulista há espaço para todos. Poucos lugares são mais democráticos do que ela.
Manifestações pacíficas - ou protestos exacerbados de caráter político - ganham amplitude quando realizados na principal avenida da metrópole paulistana. Não por acaso os termos “metrópole” e “política” possuem a mesma raiz na palavra grega “pólis” – que significa “cidade” em português.
Em tempos nos quais a mobilidade urbana figura no rol das discussões populares, o automóvel vem ganhando a conotação de vilão da sociedade. Como reflexo disso a velocidade máxima permitida na Avenida Paulista vem sendo baixada paulatinamente e agora está em apenas 50 km/h.
Há quem pregue que os automóveis devem ser banidos das grandes cidades. Estas pessoas não são democráticas, pois tentam jogar a sociedade contra uma classe isolada: a dos motoristas. Essa gente precisa visitar a Avenida Paulista para constatar que democracia é poder escolher e tolerar as escolhas diferentes dos demais.
Espaço democrático é onde se pode optar por caminhar, pedalar, usar o transporte coletivo ou dirigir um carro. Não podemos perder este direito.
* Texto publicado originalmente em novembro de 2013, na quinta edição da Revista MotorMachine - uma publicação bimestral que conta com a colaboração deste arquiteto desde o seu lançamento. Saiba mais sobre este periódico de Santa Catarina em RevistaMotorMachine.blogspot.com.br
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