O principal portal de acesso à Holambra possui um estilo arquitetônico fiel às tradições culturais dos países baixos da Europa. |
A cidade mais holandesa do Brasil é um ponto fora da curva no estilo de vida e no urbanismo brasileiro.
Por Jean Tosetto - Fotos: Horacio Zabala *
As grandes cidades brasileiras são concentrações de concreto armado, asfalto, muros e grades. Tudo vigiado por câmeras e radares. Aqueles que crescem nestas metrópoles podem considerar isso normal. Tais pessoas já não possuem um contraponto nas cidades menores, pois quem foge das selvas de pedra carrega um pouco dela para o interior. É para este público que a leitura destas linhas é mais recomendada.
É preciso reservar um fim de semana para conhecer Holambra, cujo nome é uma junção de Holanda, América e Brasil – e por aí se deduz que a cidade foi fundada por imigrantes holandeses. Eles chegaram ao Brasil pouco depois do fim da Segunda Guerra Mundial, quando a Europa ficou arrasada e mesmo os países vencedores do conflito se encontravam em péssimas condições econômicas.
O acesso à Holambra é facilitado por estradas duplicadas, que ligam a estância turística à Campinas, São Paulo e até o Rio de Janeiro por este tipo de rodovia. Para respeitar a verdade, existe um trecho de poucos quilômetros em pista simples, que liga a malha urbana do município à rodovia entre Campinas e Mogi Mirim, pelo trevo de Santo Antônio de Posse.
Tal percurso funciona como uma desaceleração para quem vem dirigindo pelas largas pistas com pedágios. As lombadas e as rotatórias induzem os motoristas a andar mais devagar e, deste modo, é possível apreciar o portal de entrada do perímetro urbano, construído com tijolinhos aparentes adornados com estreitas faixas brancas rebocadas, lembrando a arquitetura tradicional dos países baixos.
Ali já é possível receber folhetos com atrações turísticas da região, com dicas de restaurantes e pousadas. Há um pequeno estacionamento para facilitar a vida de quem já pretende sacar a máquina fotográfica para colher os primeiros registros da cidade – uma espécie de oásis para os amantes das tulipas, margaridas, rosas, crisântemos e tuias, cultivadas por gente que calça sapatos entalhados em madeira.
Seguindo pela Rota dos Imigrantes – onde o ar condicionado do carro pode ser desligado e os vidros das janelas abaixados – logo se avista o antigo mercado das flores, representando a principal fonte de renda do município, que apesar de contar com menos de 12 mil habitantes, é o maior exportador do ramo no Brasil.
A charmosa rua comercial e turística de Holambra, onde restaurantes e confeitarias mantém mesas em ambientes externos e agradáveis. |
Passando a terceira rotatória após o portal, vira-se à direita para percorrer a principal via turística de Holambra, repleta de lojinhas de artesanato, floriculturas e restaurantes, com fachadas geminadas e multicoloridas, encerradas por áticos de acentuada inclinação – novamente lembrando o estilo holandês de construção, embora o restante das edificações se apresente de forma mais convencional.
Quando a parte comercial da rua termina, começa uma área residencial que lembra os loteamentos fechados de alto padrão que pontuam as cidades satélites das grandes cidades, graças aos extensos e bem cuidados jardins delimitados por cercas vivas de baixa altura, deixando à vista as elevações das casas com projetos diferenciados. Só que para chegar até ali, ninguém pedirá seu RG, profissão, estado civil e signo do horóscopo, a partir de um interfone cravado numa portaria com vidros blindados.
As copas das árvores frondosas lançam sombras agradáveis e o carro segue quase parando. Correr ali? De jeito nenhum. No fim da rua vire à esquerda: é quando se depara com um lago de águas calmas e convidativos bancos de madeira, ideais para pedir a namorada em casamento, por exemplo. Na margem oposta está uma confeitaria que serve doces típicos da Holanda, temperados com cravo e canela. Mas o strudel de maçã deve ficar para depois do almoço, onde o cardápio é repleto de pratos com batatas e salsichas, além da tradicional sopa de ervilhas.
Na cabeceira do lago vira-se novamente à direita, passando pelo Clube Fazenda Ribeirão, que abriga um pequeno museu sobre a história dos imigrantes holandeses, próximo ao recinto da Expoflora, onde é realizada durante o mês de setembro a maior feira de flores e plantas ornamentais da América Latina - ocasião na qual a população da cidade é multiplicada em várias vezes.
Seguindo adiante nos dirigimos de volta para a estrada que vem de Santo Antônio de Posse, passa por Holambra a vai para Artur Nogueira. É onde encontramos, literalmente, o ponto mais alto da visita a esta cativante estância turística. Por trás de uma singela vila dos moradores mais antigos da cidade – emancipada no início da década de 1990 – se descortina a vista do grande moinho, com quase 40 metros de altura.
O moinho de Holambra é um marco visual que pode ser visto a quilômetros de distância por quem transita na estrada entre Santo Antônio de Posse e Artur Nogueira. |
Esta grande estrutura foi construída para comemorar os 60 anos da chegada dos imigrantes holandeses ao Brasil. Há quem afirma ser uma réplica, mas o fato é que estamos diante de um autêntico engenho movido pelo vento, capaz de moer grãos através de quatro pás com 12 metros de comprimento cada, gerando uma força motriz de 60 cavalos. A lamentar o fato da manutenção do local não estar em dia, impossibilitando o turista de ver o moinho trabalhar.
Porém, é possível subir ao mirante da grande estrutura projetada e erigida sob a supervisão de um arquiteto holandês, que na ocasião já contava com mais de 80 anos de idade e a experiência de já ter construído e reformado mais de 400 moinhos na Holanda. Ao escalar as estreitas e íngremes escadas, somos transportados para outra época e lugar.
Lá no alto, temos a visão parcial dos campos verdejantes de Holambra e de novos bairros que começam a surgir no entorno do pequeno centro. Vemos que a cidade não possui grandes edificações, que são predominantemente térreas e assobradadas, com poucas obras atingindo três andares. Por isso a quebra de escala provocada pelo moinho monumental nos faz pensar, por alguns momentos, a partir de outro ponto de vista.
Olhamos para baixo e vemos os carros estacionados e as pessoas caminhando. São tão pequeninos que parecem componentes de uma maquete. Nossa vista procura – mas não alcança – as fábricas, os engarrafamentos, os rios poluídos. Achamos que tudo isso é normal e de repente somos obrigados a concordar que não é.
Os famosos sapatos de madeira holandeses reproduzidos pelos descendentes em Holambra: uma boa recordação desta encantadora cidade. |
Ao voltar para casa, você vai querer levar um pouquinho de Holambra contigo. Pode ser um vaso adornado para a sua sacada, um avental descolado para a sua churrasqueira, ou um simples imã para colocar na geladeira. Leve, porém, a ideia de que nem tudo precisa ser cimentado.
Nossas cidades - e nossos filhos - ganharão com isso.
* Artigo publicado originalmente em janeiro de 2014, na sexta edição da Revista MotorMachine - uma publicação bimestral que conta com a consultoria deste arquiteto desde o seu lançamento. Saiba mais sobre este periódico de Santa Catarina em
RevistaMotorMachine.blogspot.com.br
Álbum: Holambra 2001
A arte inspiradora dos Vitrais Ton Geuer
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Veja também:
Álbum: Holambra 2001
A arte inspiradora dos Vitrais Ton Geuer
Cidade linda!
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