O projeto do Palácio dos Jequitibás, onde funciona a Prefeitura Municipal de Campinas, foi escolhido num concurso promovido pelo IAB há quase 60 anos, dando origem ao núcleo regional da entidade. |
O Instituto de Arquitetos do Brasil possui um núcleo regional atuante em Campinas, a ponto da cidade ganhar deste um inventário virtual com suas principais referências arquitetônicas e históricas.Se existe um problema em ter muitas ideias na cabeça, é não ter tempo ou recursos para realizá-las. Há vários anos venho cozinhando a intenção de fazer caminhadas pela minha cidade natal, Campinas, para fotografar suas principais obras e relatar sua importância para a sociedade. De certo modo fiz isso de maneira solta, ao escrever um pequeno artigo sobre o Observatório Municipal de Campinas. Porém, me faltava organizar isso numa seção específica deste blog, ou mesmo criando um site novo, nos moldes do magnífico trabalho realizado na página "São Paulo Antiga".
O fato é que os membros da diretoria do IAB em Campinas parecem ter captado minha vontade de falar da nossa metrópole e criaram um belíssimo hotsite sobre a Identidade Arquitetônica de Campinas, com o auxílio da historiadora Doutora Mirza Pellicciotta. Para marcar o lançamento deste projeto, o IAB promoveu um evento no saguão do Palácio dos Jequitibás, um lindo prédio modernista que lembra a sede da ONU em Nova Iorque - não em tamanho, mas em linhas conceituais. Uma exposição física, com parte do material disponível no referido site, faria parte da comemoração.
O coquetel de entrada franca estava marcado para sete horas da noite de 27 de outubro de 2015. Como moro em Paulínia, resolvi sair de casa com uma hora e meia de antecedência, prevendo o trânsito engarrafado na hora do rush. Fui dirigindo suavemente, escutando a Radio Cultura de Amparo, pois tiraram do ar a rádio que só tocava rock. Fui colocando o carro nas filas menores e acabei agraciado com uma onda de sinais verdes.
Para minha surpresa, cheguei 40 minutos antes do combinado, a ponto de ver a equipe de apoio do evento ainda preparando os equipamentos de som e imagem. Poderia me oferecer para ajudar, mas não me dou muito bem com plugues e cabos. Então resolvi caminhar um pouco pelas imediações, como há muito tempo queria fazer. Acabei fotografando 10% dos edifícios contemplados na iniciativa do IAB.
Existe algo no caminhar por uma grande cidade que nem as fotos conseguem traduzir. São percepções que só a experiência pessoal é capaz de coletar. Numa cidade grande podemos passar pelas pessoas sem a necessidade de falar "boa tarde" para todos. Somos como fantasmas com liberdade para observar os outros sem importuná-los.
Na praça do Centro de Convivência vejo quatro balzaquianas fazendo a sua corrida vespertina, buscando um pouco de saúde e de protelação da juventude que lhes escorrem pelos pés de galinha se pendurando em suas faces. Em contraponto, no bar de esquina, jovens barrigudos se refestelam em cadeiras de PVC, sorvendo despreocupadamente suas tulipas de chopp, fumando cigarros feito publicitários da Madson Avenue.
Uns passos adiante e vejo um casal de adolescentes abraçados, sentados num banco de madeira. Eram dois garotos que pareciam ter saído da escola recentemente. Desvio o olhar para duas irmãs gêmeas, já na terceira idade, caminhando apressadamente - quem sabe para não perder a novela. Ao contrário dos rapazes, elas não conversavam. Passei incólume por todos até ver, no relógio de pulso, que já estava em cima da hora para voltar.
O brasileiro, em linhas gerais, não conversa sobre Arquitetura e Urbanismo, como fazem os italianos, franceses e alemães. Na Europa, e mesmo na América do Norte, as cidades são motivadoras de paixões para quem vive nelas. Como arquiteto, gostaria que nossas cidades também fossem foco de entusiasmo para seus cidadãos. Por isso registro os parabéns para o IAB e todos aqueles que atuaram na criação deste site sobre a Identidade Arquitetônica de Campinas, e faço questão de reprisar o link: iabcampinas.org.br/identidade-arquitetonica
Esta iniciativa talvez seja uma cunha para abrir uma nova fenda de debates sobre a cidade, que é sim um organismo vivo e interdependente, feito de prédios emblemáticos e habitados por gente de várias matizes.
Por Jean Tosetto
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