A Primeira Igreja Batista em Jaguariúna - PIBJ - pretende construir seu templo na Avenida Antonio Pinto Catão, um importante vetor de crescimento da cidade. |
Entre estudos e aprovações, o projeto para a nova sede da PIBJ levou um ano e meio para ser formalizado. Já a construção levará mais alguns anos para ser concluída.
Quem é jovem nesta segunda década do século 21, está habituado com as tecnologias da comunicação instantânea, de modo que tal imediatismo contamina vários aspectos de sua vida. Neste contexto, fica difícil assimilar que certas coisas exigem um tempo bem mais cadenciado para acontecer. É o caso das construção de templos religiosos de igrejas tradicionais - aquelas que não alugam barracões para funcionar e não compram antigas salas de cinemas falidos para ocupar os centros urbanos cada vez mais deteriorados.
As igrejas tradicionais, entre elas as protestantes históricas, dependem muito das comunidades locais para construírem seus templos, dado que não usufruem de programas de rádio e TV para lhe potenciarem a arrecadação de dízimos. Sem pastores que agem como estrelas do entretenimento, tais comunidades fazem um trabalho de formiguinhas, englobando um aspecto social negligenciado em parte pelo poder público. São em instalações religiosas, por exemplo, que muitas crianças carentes aprendem noções de inglês, instrumentos musicais e informática, gratuitamente.
Por isso, quando a Primeira Igreja Batista de Jaguariúna - PIBJ - me convidou para participar de uma entrevista para eventual desenvolvimento de uma proposta de prestação de serviços de Arquitetura, aceitei sem pensar duas vezes, pois sei que eles fazem um trabalho sério, que vai além dos conceitos religiosos. Mesmo com duas décadas de carreira, entre faculdade e escritório, fiquei emocionado ao saber que havia sido escolhido, entre outros três profissionais, para conduzir o projeto arquitetônico e demais projetos complementares.
Trabalhar para uma comunidade religiosa é bem diferente de trabalhar para um casal que pretende construir uma casa, ou para sócios de uma empresa que planeja investir em seu patrimônio imobiliário. Quando se trata de uma residência, seu projeto precisa ser convincente para o casal que vai construí-la - quase não há interferência externa no processo. Empresários costumam ser práticos na hora de encomendar um projeto, quando as reuniões são mais curtas e objetivas. Já numa comunidade religiosa, é necessário lidar com uma diretoria com várias pessoas, sabendo que lá na frente será preciso ter o consenso de dezenas de membros da entidade. É impossível agradar a todos plenamente.
Por isso, entre idas e vindas, leva um bom tempo para desenvolver um projeto para uma comunidade religiosa. Nesta hora, a ansiedade pode até bater na porta, mas não podemos deixa-la entrar no escritório.
Dois projetos para o mesmo terreno
A PIBJ possui um lote de 2.750 m² numa região em expansão, próxima ao centro urbano da cidade. A área já conta com uma residência de 145 m² que será preservada no programa da comunidade. Como o terreno possui um declive considerável, desenvolvemos o projeto arquitetônico em três níveis. O pavimento inferior não é visto pela testada, mas tem acesso pelos fundos, onde há uma recepção, secretaria, almoxarifado, sanitários masculino e feminino e quatro salas para usos diversos - entre eles a escola dominical.
A nave com o altar fica no pavimento térreo e tem capacidade para atender até 160 pessoas. Há uma saleta de som e um vestíbulo que a separa dos acessos principais, onde há uma rampa para cadeirantes que desemboca diretamente na calçada pública. Do vestíbulo temos acesso para a escada, elevador, sanitário para pessoas com necessidade especiais e um berçário com copa quente e fraldário, além de uma janela para a nave, para que as mães dos bebês possam acompanhar os cultos.
No pavimento superior fica o mezanino com vista para o altar, com capacidade para até 26 pessoas, onde o coral poderá enriquecer a experiência dos participantes das atividades da igreja. Ao todo, a nova sede da PIBJ terá 646 m² em seu edifício principal. O projeto foi aprovado em meados de 2015, coincidindo com a notoriedade da crise econômica brasileira.
Temerosa com a possibilidade de iniciar uma obra que seria difícil concluir em curto prazo, por causa da compreensível queda acentuada das doações de seus membros, a diretoria da PIBJ acionou o plano B: a aprovação de um projeto menor, recuado em relação ao projeto principal, que futuramente poderia ser o salão comunitário da entidade, mas que num primeiro momento a livraria de pagar o aluguel das instalações atuais.
Este segundo projeto foi elaborado com apenas um pavimento e 223 m² de área, mantendo, no entanto, a capacidade para 160 pessoas em dias de culto. Há ainda os sanitários masculino, feminino e para pessoas com necessidades especiais, além de um pequeno depósito. A aprovação do mesmo ocorreu na virada para o ano de 2016. No conjunto arquitetônico projetado resultante, a PIBJ contará com 20 vagas internas para automóveis, duas das quais para pessoas com necessidades especiais.
No projeto das instalações hidrossanitárias, o detalhamento do lavabo para pessoas com necessidades especiais, visto em planta baixa para o esgoto, e elevação para alimentação das peças. |
Trabalho de equipe
Em meu livro "Arquiteto 1.0 - Um manual para o profissional recém-formado" afirmo que o bom profissional não deve trabalhar apenas com o projeto arquitetônico, mas oferecer uma gama de serviços aos seus contratantes, que englobem os projetos complementares, mesmo quando feitos por terceiros.
Sendo coerente com o que escrevi, fiz questão de constituir uma equipe de trabalho multidisciplinar para entregar, para a diretoria da PIBJ, um projeto que fosse o mais completo possível. Além do projeto arquitetônico, desenvolvemos as instalações hidrossanitárias e o detalhamento da cobertura metálica. Com a colaboração de profissionais de primeira linha entregamos também o cálculo estrutural, o projeto de prevenção e combate a incêndios, a maquete eletrônica, o projeto de instalações elétricas e até o projeto de SPDA - Sistema de Proteção contra Descargas Atmosféricas - que recorre ao uso de para-raios em torno da cobertura da edificação.
Para todos estes profissionais, listados nas legendas a seguir, registro publicamente o meu agradecimento pelos bons serviços prestados.
Aspecto da planta baixa do pavimento inferior em projeto de instalações elétricas assinado pelo engenheiro eletricista Sylvio Zanetti. |
Detalhe da planta de locação das estacas das fundações do prédio principal, cujo cálculo estrutural foi desenvolvido pela Torniziello & Vechini Consultoria e Engenharia. |
Seção transversal do projeto de prevenção e combate a incêndios, elaborado pela Almeida & Scaglia Engenharia. |
A maquete eletrônica do projeto foi renderizada no escritório da arquiteta Lidia Arantes. |
Os trabalhos prosseguem
Até aqui contamos a história do projeto para a nova sede da PIBJ. Falta contar a história da construção do conjunto arquitetônico. Sem os recursos em caixa, não há como prever uma data para a conclusão dos trabalhos. Obviamente dependerá do envolvimento de toda a comunidade. Se há uma certeza, é de que desejamos acompanhar essa história até o final, e reportar para os nossos amigos leitores o resultado deste sonho que começou lá atrás. Pressa? Não podemos ter. Ainda não inventaram um smartphone que faça uma obra de tal porte acontecer rapidamente, apenas deslizando paredes inteiras com a ponta dos dedos.
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