Entre prioridades e distrações, quem faz uma faculdade de Arquitetura se vê na obrigação de fazer "tudo ao mesmo tempo, agora". Mas não precisa ser assim.
Mensagem recebida em 11 de novembro de 2016:
"Boa noite Jean,
Sou estudante do segundo ano Arquitetura e Urbanismo e estava vendo o seu site e seus textos. Resolvi te enviar um e-mail a fim de que pudesse me dar alguns conselhos sobre a graduação.
O curso de Arquitetura e Urbanismo não é nada fácil, mas eu sempre me dei ao máximo, me esforço, fico noites sem dormir e muito tempo sem comer (as escolas de Arquitetura são um tanto cruéis), mas o pior é que parece que não tenho resultados desses meus esforços. Vou bem na maioria das matérias, a maior dificuldade está na disciplina de Projeto de Arquitetura, certamente é a mais exigente. O meu maior vilão é o tempo, e essa é uma reclamação que vejo por parte de inúmeros alunos. Sempre coloco toda minha energia para desenvolver um projeto, minhas notas não são as melhores da classe mas consigo ficar acima da média. Porém, como sempre não consigo entregar tudo no tempo, sou prejudicada.
E esse é o motivo para eu estar vivendo uma crise com o curso que eu escolhi e gosto. Provavelmente terei que fazer novamente a matéria de Projeto, sendo que meus projetos receberam notas boas mas por causa de atrasos perdi nota. Terei que fazer um ano inteiro novamente, não porque eu não sei mas porque o tempo sempre é curto demais e eu não peço maquetes por encomenda (para ter tempo de entregar tudo), logo minhas maquetes são incompletas.
Tenho a impressão de que meus esforços estão sendo em vão e os esforços dos meus pais também, porque a faculdade de Arquitetura exige muitos gastos. Eu não quero trancar minha faculdade por conta disso, por isso procurei o senhor, que talvez ao longo da graduação e da vida profissional tenha passado por algo parecido.
Muito obrigada pela atenção,
Amanda Torres"
Nossa resposta:
Prezada Amanda Torres,
Passei pelas mesmas aflições que você: estive entupido de trabalhos para fazer na faculdade, especialmente no fim de cada semestre, e já varei noites fazendo maquetes pessoalmente enquanto alguns colegas iam para festas, pois haviam terceirizado a tarefa. E no momento em que lhe escrevo, lembro de cada um de tais colegas que hoje não trabalham com Arquitetura.
Porém, serei duro agora: não espere que as pessoas tenham dó de você. Seus professores sabem que muitos alunos ficam perdidos na faculdade. Seus pais devem ser compreensíveis com isto. No mais, os outros não querem nem saber. Ter autopiedade não vai tirar você do enrosco: para sair dele estabeleça prioridades e se organize para cumprir um cronograma de atividades que você precisa concatenar tão breve acabar de ler esta mensagem.
Se a reprovação em "Projeto" lhe custar um ano de faculdade, dê foco para sanar a matéria. Se isto significa sacrificar outra cadeira que apenas lhe renda uma dependência, mas que seja possível cursar em paralelo no ano seguinte, então vá em frente, dado que não será o fim do mundo e não impedirá que você se forme e seja uma ótima arquiteta.
Se você observar disciplina por disciplina, verá que elas não são muito complicadas. O que dificulta é resolve-las ao mesmo tempo. É por isso que você precisa montar um grupo de trabalho eficiente, com alunos que tenham afinidades distintas para cobrir cada matéria. Neste grupo não adianta todos gostarem de "Projeto" e detestarem "Planejamento" - alguém precisa ter prazer em estudar "História da Arquitetura", por exemplo. Com um grupo bem estabelecido, de quatro a seis alunos, a divisão das tarefas será mais eficiente, pois alguns vão se dedicar mais do que os outros em cada disciplina. Em alguns trabalhos você se empenhará para valer, ao passo que em outros você fará pouco mais do que assinar a capa - e não se sinta culpada por isto.
Ou seja, você precisará confiar em seus colegas e vice-versa. E lá vem a moral da história: na sua vida profissional acontecerá algo parecido! Nenhum professor te ensinará a montar um bom grupo de trabalho, pois é você que tem que aprender na prática, uma vez que recorrerá a este expediente em toda a sua carreira.
Pior para um arquiteto, do que ter poucos projetos para fazer, é ter projetos demais e não conseguir dar conta deles. Ser individualista e centralizador neste ofício é o caminho mais curto para a cova do mercado de trabalho. Se você não se cercar de bons profissionais a quem poderá recorrer, dependendo da complexidade de cada projeto, passará por momentos de sufoco sucessivos, até se estressar num ponto de abandonar a carreira.
Encerro fazendo um comentário sobre notas e sobre estar acima da média. É sempre bom tirar notas altas e se destacar, mas você precisa fazer isso pelo motivo certo, que é adquirir conhecimento sólido e duradouro. Fazer isso para se comparar com outros alunos não deve ser sua motivação, pois cada um tem aptidões e dificuldades distintas. Você não está competindo com seus colegas de classe. Lá na frente você não será remunerada para ser melhor que outra profissional - senão, ela mesma seria contratada. Você será remunerada para resolver da melhor forma as necessidades do seu cliente e acredite: ele não vai perguntar a nota que você tirou em cada matéria da faculdade.
Luz no seu caminho,
Jean Tosetto - Arquiteto
O feedback:
"Muito obrigada pela mensagem e atenção, Jean.
Pode acreditar que ela foi muito importante para mim e levarei esses conselhos ao longo da minha formação acadêmica e profissional.
Abraço,
Amanda Torres"
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