Arquitetura, prevenção e combate a incêndios

Facilitar o trabalho de prevenção e combate a incêndios é uma das atribuições dos arquitetos.

Arquitetos e engenheiros precisam se impor como atores decisivos nos processos construtivos, transmitindo noções de responsabilidade para seus clientes e para os usuários das obras que projetam e executam.

Mensagem recebida em 17 de novembro de 2016:

"Olá Jean, boa tarde.

Parabéns pelo seu site, estive lendo hoje com calma e possui vários artigos importantes para quem atua na área da construção civil.

Estive lendo o artigo “Arquiteto ou Engenheiro” e gostei muito, principalmente na parte que diz o que deve ser combatido pelos conselhos profissionais CREA e CAU.

Uma coisa que me chama muita atenção é o fato de que alguns arquitetos não possuem o mínimo de conhecimento sobre segurança e proteção contra incêndio, principalmente a proteção passiva que é algo inevitável de se pensar ao desenvolver um projeto arquitetônico.

O que se ouve muito é "precisamos aprovar o projeto no bombeiro" e a questão e os conceitos básicos de segurança muitas vezes são deixados de lado, como podemos ler nessa matéria

As universidades dão pouca importância para o assunto da segurança e incêndio dentro da grade do curso de Arquitetura.

Qual seria seu ponto de vista com relação a esse assunto?

Atenciosamente,
William Vieira - WHL Engenharia"

Nossa resposta:

Caro William,

Grato pelo contato e por ler os artigos que compartilho com prazer. Sobre sua questão, não respondo pelos arquitetos que você conhece, mas apenas por mim: não me considero especialista em projetos de prevenção e combates a incêndios, por isso conto com uma parceria que desenvolve este tipo de trabalho, sempre que seja necessário em algum projeto arquitetônico que eu esteja envolvido.

Logicamente não posso ser um leigo no assunto, e preciso dominar conhecimentos técnicos na área, sem os quais não tenho como fazer a compatibilização dos projetos complementares. Eis uma dificuldade no ofício da Arquitetura: ser um profissional generalista com capacidade de dialogar com especialistas numa ponta e com leigos - eventualmente os contratantes - na outra.

Os arquitetos precisam ser didáticos com seus  clientes. É comum que eles reclamem da largura excessiva de corredores de circulação, em detrimento do tamanho das salas comerciais ou institucionais que estes alimentam. Também há reclamações sobre as portas com barras anti-pânico que só abrem para fora e não podem ser de correr. Já passei pela experiência de explicar para um empresário que sua academia de ginástica, no pavimento superior de um sobrado, deveria ter uma segunda escada para atender casos de emergência, sendo bem compreendido.

Por outro lado, já tive que recusar um trabalho onde o cliente em potencial queria fazer tudo ao seu modo, amparado numa consultora de interiores que simplesmente ignorava aspectos básicos de acessibilidade universal, que também tem reflexos positivos na segurança passiva de uma edificação. Não sei se algum concorrente aceitou o serviço nestas condições - se o fez, provavelmente recorreu às brechas das normas e procedimentos de aprovação dos projetos para seguir adiante. Reside aí um grande perigo para a sociedade: quantos projetos são feitos "para inglês ver" e são executados de modo distinto?

Mais do que temer as eventuais fiscalizações dos conselhos profissionais, arquitetos e engenheiros precisam se impor como atores decisivos nos processos construtivos, transmitindo noções de responsabilidade para seus clientes e para os usuários das obras que projetam e executam. Não creio que profissionais que centralizam demais as decisões de seus projetos sejam os mais eficientes e reside aí a importância dos especialistas em cada área, não só para prevenção e combate a incêndios, como para instalações hidráulicas e elétricas, estruturas diversas e outros sistemas.

Neste ponto a professora da FAU USP, Rosaria Ono, que concedeu a entrevista para a Revista Techne que você mencionou, tem razão quando afirma que o projetista tem que dar, em linhas gerais, as condições para o especialista propor soluções de prevenção e combate a incêndios, minimizando a eventual incompatibilidade do projeto. Para tanto, o entrosamento entre os profissionais é fundamental: engenheiros e arquitetos precisam conversar muito bem, superando eventuais rixas que só os mais ingênuos alimentam.

Grande abraço,
Jean Tosetto - Arquiteto

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