O prédio da FAU USP visitado em meados da década de 1990: projeto icônico do mestre João Batista Vilanova Artigas. |
O mercado de trabalho, num país como o Brasil, se ajusta e se aprimora constantemente diante das questões políticas e econômicas. Mas algo não muda: ele absorve somente os melhores profissionais, independente da origem do diploma.
Mensagem recebida em 12 de janeiro de 2017:
"Olá, meu nome é Amanda, vi um artigo seu falando sobre Arquitetura e vi algo que me deu muito alívio, que é o fato de muitos arquitetos começarem a trabalhar aos 26, 27 anos.
Hoje tenho 22 anos, tentei a USP umas quatro vezes, e sempre tinha uma evolução. Nesse último ano, por causa de três pontos, não passei para a segunda fase.
Hoje estou em um dilema: penso em fazer Senac por ser perto da minha casa, e por ser no período da manhã, o que me dá a chance de trabalhar. Caso eu faça Senac eu faria um parcelamento onde no final do curso eu devo pagar 80% do valor do mesmo, o que equivale a ter uma dívida de 50 mil reais - dinheiro esse que temo não ter...
O curso de Arquitetura no Senac é muito novo e mal possui pessoas formadas ainda. É um curso em constante transformação.
Não sei se já começo a minha vida acadêmica ou se me dou mais uma chance de seguir meu sonho de ingressar na USP, acha que tentar pela quinta vez compensa? Ou devo desencanar de vez e começar fazendo Senac? Conhece algum profissional do Senac que tenha conseguido seu lugar no mercado de trabalho?
Qualquer resposta ou conselho ficarei muito agradecida."
Nossa resposta:
Prezada Amanda Seabo,
A USP é uma das universidades públicas mais renomadas no Brasil e, assim como a Unicamp, uma das mais reconhecidas no exterior. Logicamente um diploma da USP tem grande peso. Mas, atentando para o curso de Arquitetura e Urbanismo, vejo na USP um foco maior em questões teóricas que favorecem o aluno que deseja prosseguir na carreira acadêmica ou pleitear cargos no serviço público, dado o alto grau de politização da faculdade.
Não conheço as instalações do Senac em São Paulo. Porém, a despeito do curso de Arquitetura e Urbanismo ser relativamente novo nesta instituição, ele claramente é direcionado para o mercado de trabalho, ou não seria um curso do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial.
Leve em consideração que o mercado de trabalho para arquitetos em São Paulo capital é muito distinto do mercado praticado no interior. Na capital do estado o tecido urbano está quase completo, levando os arquitetos a trabalharem mais com reformas, restaurações, Arquitetura Corporativa e Arquitetura de Interiores. Nas cidades do interior ainda há muito espaço para construções novas, sempre que um loteamento residencial é lançado ou um parque empresarial é anunciado.
Respondendo pelo mercado do interior - especificamente na região de Campinas - noto que arquitetos formados por instituições privadas realizam mais projetos do que profissionais diplomados por universidades públicas. A constatação é baseada nas placas de obras e no convívio com outros profissionais em eventos organizados por associações de classe. Com isso não estou querendo direcionar você para o curso em"A" ou "B". Estou apenas revelando uma percepção.
Não sei como estará o mercado de trabalho dentro de cinco anos quando, em tese, você terá um grande compromisso para começar a saudar com o Senac. Mesmo os analistas financeiros mais tarimbados costumam errar previsões para o dia seguinte. O que posso afirmar é que o mercado de trabalho, num país como o Brasil, se ajusta e se aprimora constantemente diante das questões políticas e econômicas. Mas algo não muda: ele absorve somente os melhores profissionais, independente da origem do diploma.
Pense no mercado de trabalho como um bife assando na grelha. O gaúcho experiente sabe que pode jogar o sal grosso que quiser nele, pois na primeira virada o sal excedente se juntará ao carvão da churrasqueira. A carne absorve somente o sal que lhe tempera. O que temos que fazer - você e eu - é sermos o sal da terra, numa comparação mais erudita.
Luz no seu caminho,
Jean Tosetto - Arquiteto
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